domingo, 11 de julho de 2010

a crônica da loira

Fato é, estou sempre usando minha vida para literatura. E como não usar? Não digo de maneira alguma que minha vida é tão interessante ao ponto de que todos deviam ter uma vida como a minha. Pelo contrário, muito pelo contrário. Acredito, no entanto, que certas coisas, que aparentemente só conseguem acontecer comigo, deviam ser aproveitadas para pelo menos entreterem o meu tão pequeno círculo de leitores. Logo eu que adoro uma boa piada.


Foi assim que mais um desses tão inusitados casos do destino aconteceram. Estávamos eu e você conversando debaixo do seu bloco outro dia. Você tinha acabado de chegar do trabalho e eu estava indo para o meu carro, que, como de praxe, estava estacionado na sua quadra. (E aqui eu tomo a liberdade de me perguntar: Por que logo hoje, que eu não tinha tomado um banho o dia todo depois de um dia cheio fora de casa você decidiu falar comigo? Bom mesmo é que se eu tivesse arrumada e perfumada, não olharia duas vezes em minha direção, não é mesmo?)

Você me perguntando sobre o meu dia e eu sem a mínima vontade de conversar sobre aquilo. Já tinha se passado tanto tempo que a gente não se falava que eu nem me lembrava mais de como agir perto de você. Para falar verdade, não me lembrava mais de quase nada. Quando que você começou a deixar esse seu cabelo crescer? Quando que você deixou que suas olheiras dominassem a melhor parte do seu rosto? Quando que você começou a sorrir desse jeito pra mim? Vem cá, quando é que você se importava com o meu dia?

E você me fazendo perguntas e eu nem lembro mais se consegui respondê-las. Foi entre você me explicando que tinha mudado de emprego e eu me chutando mentalmente por não ter me perfumado que veio um carro vermelho parar bem perto da gente. Você nem percebeu, foi um alívio. Como era bom saber que você era distraído para tudo na vida e não só com o meu coração! O motorista do carro ficou nos olhando - não resisti e tive que olhar. Era uma loira. De imediato meus olhos escureceram e eu perdi a pouca paciência que eu já não tinha nesse dia e pensei: como isso é possível!? Dei uma risada.

Você não entendeu e continuou me contando sobre o certificado que tinha acabado de tirar. Ouvindo você falar tudo isso comecei a te invejar. Por que eu não escolhi uma carreira que me desse tanto retorno quanto a sua escolha profissional? Por que tudo era tão fácil para você enquanto eu sempre tive que dar dois passos a mais? Balançava minha cabeça como quem entendia tudo que você falava. (Sei que você já me explicou mais de três vezes, mas acredite, até hoje não sei dizer ou explicar o que você faz!)

Ela desligou o carro e chamou o seu nome. Suei frio e engoli o sorriso. Você virou a cabeça, olhou para ela e sorriu, mas não era qualquer sorriso. Era um sorriso normal, os especiais você reservava pra mim. Fiquei atenta para a troca de palavras, nada de muito interessante. Daria meu único rim para tirar a oleosidade do meu cabelo que estava evidente nesse momento. Ela saiu do carro e você se aproximou dela. Hora da morte. Estava tudo acabado.

E foi aí que você a apresentou pra mim. E eu não me contive, dei a risada mais gostosa que consegui soltar. É, de vez em quando a vida me dá umas boas surpresas.

O inimigo era a namorada do seu melhor amigo.

Steph - lidando com a realidade e a ficção

3 comentários:

Lara disse...

Me divirto com suas histórias baseadas em fatos manipuladamente e parcialmente reais, STeph.
Vc tem o dom de melhorar mto a realidade!
Muito bom!

beijo

Rosana Araújo disse...

E eu repito o comentário do post anterior da Lara: Eu adoro a linha tênue entre a realidade e a ficção! hehehe

Druidan disse...

Eu já te dei a explicação!!!!

Ela é a mesma explicação para nós dois, também conseguirmos as coisas, de maneira ligeiramente mais fácil que os outros!! Vc tem saídas, e eu tenho saideira!!!

Ele nem é uma saída!!!

=***