domingo, 28 de novembro de 2010

Bola dupla de chiclete

Tem dias que a gente acorda achando que vai dar tudo certo. Não vai ter engarrafamento, nem encontros indesejados, nem emails pentelhos, nem aborrecimentos, chateações ou decepções. Não vai dar nada errado mesmo. E aí, por um milagre de Deus (ou não), tudo realmente dá certo. Você vive cada minuto daquele dia do jeito que você tinha planejado até que chega a hora de ir dormir para enfrentar um novo dia. Esses dias perfeitos (ou quase) se esvaem da nossa memória. Já reparou? Apesar de serem os dias certos, a gente não guarda lembranças deles.

Mas aí vêm os dias péssimo. Aqueles em que tudo sai errado. Engarrafamentos até na sua rua, telefones, emails e encontros indesejados, almoço ruim, trabalho demais pra tempo de menos, canetas que não funcionam, impressoras sem cartucho, mancha de macarrão na sua camisa branca, calça jeans que não abotoa mais. Aqueles dias que destroem seu humor e te fazem ter vontade de morar num buraco fundo pra sempre. Esses até ficam na memória, mas não todos. Senão não funcionaríamos. Não teríamos ânimo para dar o próximo passo.


Os dias que realmente contam, os que são memoráveis, no entanto, não são inteiramente bons ou ruins. São aqueles que te dão a sensação de que não está tudo perdido. Aqueles em que você se levanta, têm suas expectativas destruídas, mas que de alguma forma se salvam. Hoje foi um dia desses para mim.

Acordei antes da hora que eu gostaria, comi um almoço bem mais ou menos, inventei de ir numa feira onde mais uma vez tive uma amostra grátis do quão lascada minha geração é, mas aí... Aí resolvi que a vida é dura demais pra ser levada a sério. Fui ver filme com os amigos e fazer campeonato de bola dupla de chiclete. E quer saber? Adorei! Finalmente dei conta de fazer as bolas duplas mais legais. Nem minha melhor amiga estourando-as na minha cara me incomodou. Porque é pra esses momentos que a gente vive! Para se ocupar de fazer as coisas mais bobas nas melhores companhias e para constatar que muitas vezes a nossa felicidade não está no que a gente deixa de ter, mas nas bolas de chiclete que a gente aprende a fazer por aí.

Lara - comprando um estoque eterno de babaloo

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Em boca fechada...

Eu tenho uma coisa pra falar. Mas não posso.
Aliás, eu tenho várias coisas pra falar.
Coisas sérias e coisas inúteis. Boas e ruins.
Mas não falo nada.
E por que não?
Simples!
Porque em boca fechada não entra mosca!
Porque o silêncio não me traz consequências.
E nem me obriga a ficar me explicando.
Nem gera discussões intermináveis e nem achismos.
Não  abre as portas pra dupla interpretação.

Sim, é verdade que o silêncio não resolve nada.
O simples fato de eu me calar não significa que o que eu falaria não existe.
Mas agora é o máximo que dá para fazer.
Porque acabou a paciência!
Cadê a paciência pra explicar o óbvio?
Pra lidar com a burrice (ok, limitação é mais politicamente correto) dos outros?
E a paciência pra aguentar os analfabetos das entrelinhas?
Cadê?

Paciência é uma virtude para poucos e a minha é bem seletiva.
É por isso que não escrevi mais.
Não tava com saco pra traduzir minha vida e meus pensamentos em posts poéticos e cheios de metáforas.
Se fosse para falar, eu ia cuspir marimbondos.
E aí viriam as consequências.
E para essas eu não tenho paciência mesmo.
Se fossem consequências dignas, tudo bem.
Mas normalmente elas não são.
São meros frutos do egocentrismo daqueles que não sabem ler de verdade.
Se você nos lê e entende, processa o que a gente fala, tudo bem.
Se você se ocupa de achar que tudo aqui é bronca e puxão de orelha pra você, tudo bem também.
É, meu caro, consciência pesada é uma merda!
Mas se você lê, acha que tudo gira ao seu redor e exige reparações, é pra você que não tenho mais paciência.

E quando você ler isso aqui, não se ocupe de se sentir magoado porque levou um tapa na cara online.
Interprete o texto!
E lembre-se que se a carapuça serve, não é culpa de quem escreve, porra!
É culpa sua!
Exclusivamente sua!
Não tire nosso tesão de escrever!
Não exija nada de nós!
Lide com seus monstros em silêncio.
Porque eles são só seus.
Eles assombram só você.
E fique calado.
Porque em boca fechada não entra mosca.

Ooops. uma acabou de entrar na minha aqui.
;)

Lara - englindo moscas e cuspindo marimbondos

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Os finais felizes e infelizes

Era uma vez, em um reino distante, uma linda princesa e um príncípe encantado. Eles passaram por um monte de coisa para poderem ficar junto e, quando finalmente conseguiram o que queriam, viveram infelizes para sempre. Ela reclamando de tudo, gorda e acabada e ele bebendo cerveja e alisando a pança.

Num ninho de mafagafos tem dois mafagafinhos
Quem os desamafagafar primeiro bom desamafagafador será
E ainda terá um prato cheio pra jantar!

Vou me embora pra Pasárgada
Lá trabalharei que nem escravo
Perderei meu entusiasmo
E descobrirei que Pasárgada é que nem o resto do mundo!

Ah, que saudade que sinto da minha infância querida, da aurora da minha vida, dos tempos que já não voltam mais.
Das provas infernais de matemática
Da gordinha que roubava meu lugar na fila da cantina
Dos apelidos malvados
Do palhaço que afundava a ponta das minhas canetinhas
De ter horror de ser obrigada a socializar com os filhos dos amigos dos meus pais.

Batatinha quando nasce
Não se esparrama pelo chão.
Fica debaixo da terra, porra!

No meio do caminho tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
Eu abaixei, catei e joguei na cabeça do cara que tava andando na minha frente

Fulano amava Ciclana que amava Beltrano que não amava ninguém
A vida é assim e pronto
Conforme-se!

Atirei o pau no gato-to
Mas o gato-to não morreu-reu-reu
Dona Chica-ca chamou o Ibama e mandou me prender

Ciranda, cirandinha, vamos todos cirandar,
Vamos dar a meia-volta
E ir embora
Porque esssa história de andar em círculo é muito idiota

Moral da história:
A vida é assim. Cheia de finais. Alguns felizes, outros infelizes
Mas no final das contas, quem escreve esses finais somos nós mesmos.

Lara - escrevendo finais e começos todos os dias!

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Cadê o tempo que tava aqui?

Não tenho tempo!
Essa é minha mais nova desculpa pra tudo!
Por que você está sumida? Por nunca mais apareceu em tal lugar? Por que não está lendo a pilha de livros que você tem pra ler? Por que não comprou o que tem que comprar? Por que não fez back up do computador? Por que não estudou mais? Por que não entrou no mestrado ainda?

Penso, penso, penso sobre essas coisas e a resposta é sempre a mesma: me falta tempo! Que o tempo é relativo todo mundo sabe. Sim, duas horas assistindo seriado passam infinitamente mais rápido do que duas trabalhando. Einstein já sabia disso e não tem como discordar. Mas o grande problema do tempo para mim é que não importa quanto tempo eu tenha, nunca parece ser o suficiente!

Nunca tenho tempo suficiente para mim, para investir em mim, para gastar com as coisas que eu realmente quero fazer. Talvez seja porque a vida não deixa que seja diferente. É preciso trabalhar, trabalhar, trabalhar. Essa é a prioridade! É preciso se esgotar em obrigações e esquecer que o mundo é mais que isso. É assim que o dia-a-dia exige que vivamos. Ou não? É preciso maximizar o tempo para esquecermos de nós mesmos e nos perdermos em nossas tarefas.

Olha só, não estou reclamando de ter obrigações. Não é isso. Trabalhar é bom. O que é ruim para mim é não ter tempo para mais nada. É chegar em casa e não ter forças para ler um livro sequer. É sentir meu cerébro fritar de cansaço e saber que o tempo que teoricamente eu teria para mim não será realmente meu; será de outras coisas que tenho para fazer. Difícil viver assim! Sem nunca parar...

É isso que eu quero! Um relógio que pare! Não precisa ser muito. Pode ser só por uma hora por dia, mas quero um relógio que não deixe o tempo se esvair, que congele um pouquinho para eu parar e descansar a cabeça de tudo. Já pensou que luxo seria se pudéssemos todos fazer isso todo dia? Só uma horinha... Poder parar e fazer o que quiser. Se deixar invadir pelo ócio sem culpa. Dormir um sono tranquilo. Assistir uma coisa bem boba na televisão. Ver os amigos. Qualquer coisa. Eu quero fazer qualquer coisa, contanto que seja para mim e sem sentir que com isso estou desperdiçando meu tempo. Por que quer saber de uma coisa? Estou cansada de não ter tempo para nada e de correr constantemente contra o relógio. Está mais do que na hora do relógio correr atrás de mim.

Lara - tentando arrumar tempo pra sobreviver

domingo, 14 de novembro de 2010

filosofia de taxista

Já dizia alguém famoso, não sei bem quem exatamente, que conselho, se fosse bom, não se dava de graça. Sábias palavras, caríssimo autor anônimo, sábias palavras.
Eu não sei bem o que eu quero da minha vida. Talvez seja por isso que eu comprei uma passagem sem volta para o Rio de Janeiro. Estava chovendo quando desembarquei e entrei em um taxi qualquer de aeroporto.

O motorista não perguntou para onde eu ia, simplesmente colocou minha bagagem no porta-malas e dirigiu como se já soubesse tudo da minha vida e não precisasse de maiores instruções sobre meu destino.

Como já éramos amigos íntimos ele começou.

- Sabe, o bom não é o amor. O bom é casar. É tão bom que já me casei 10 vezes.

Não sabia bem o que falar ou como reagir. Minha primeira reação foi rir, mas segurei a vontade. Talvez ele realmente fosse vidente! Um pai de santo, talvez. Por que não? Eu devia falar algo sobre meu destino, mas não me pareceu apropriado no momento. Qual era a pressa, não é mesmo? Não era esse o ponto da minha aparente loucura?

Ele sabia da minha história, certeza. Continuou.

- Esse negócio de amor é coisa de adolescente. Gente velha quer mesmo uma boa companhia e só.

Fazia sentido pensei pra mim mesma. Fiquei dois anos atrás de um suposto grande amor e para quê? Para ser monumentalmente decepcionada no final, respondeu aquela voz amiga do meu subconsciente. Não gostei da resposta, afinal de contas, não foi tão ruim assim. Eu finalmente consegui o que tanto queria, uma pena só a realidade não ter correspondido com minhas expectativas.

O taxista se intrometeu nos meus pensamentos. Não gostou da conversa interna que estava tendo, queria fazer parte do papo.

- Já sofreu por amor minha filha? Mexe com isso não. Quando for namorar, ame só 10% senão você vai sofrer.

Ele claramente sabia do que estava falando. Sabia que tinha feito algo de errado, amei com um zero a mais!

Estávamos em pleno engarrafamento carioca, não tinha para onde fugir. Não precisava dizer para onde eu tinha que ir por enquanto. Continuei calada.

- Sabe, muita mulher desesperada entra no táxi e roda a cidade toda chorando atrás do marido ou namorado. Perda de tempo.

Não me surpreendi, mas achei cliché na hora. Por que rodar a cidade toda, gastar dinheiro se você já sabe que o seu marido ou namorado está te traindo? É a tal da dor, né? Rejeição realmente não é pra qualquer um e se tem algo que a gente não esquece é traição. Por mais que depois ele se arrependa, te escreva uma carta dizendo tudo que você sempre quis ouvir, você sempre vai ter um pé atrás com ele. Nunca vai confiar totalmente nele, especialmente quando ele for sair com aquelas amigas que você sabe que não valem nada.

O meu amigo não se contentou e prosseguiu.

- Se tá bom fica, se não tá, separa. Tem gente demais nesse mundo pra ficar brigando e dizendo 'ah, mas eu amo é você'.

Isso é mesmo. Era exatamente isso que eu precisava ouvir. Uma segurança verbal, mesmo que vindo de um completo estranho, para me assegurar de que o que eu estava fazendo não era errado, não era fuga. Se fosse isso que eu queria eu nunca teria abdicado daquele sofá que eu tanto quis experimentar. Nunca.

O engarrafamento foi lentamente melhorando e começamos a andar. Me deu uma vontade louca de chorar, mas as lágrimas não desceram.

- Vou ficar entre a Figueiredo e a Barata Ribeiro. Rua 567, na esquina do Itaú, eu falei pela primeira vez.

Ele não falou mais nada durante a viagem até chegarmos lá.

- Serão R$35,60 da corrida, os conselhos ficam por minha conta.

Steph - tentando

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Queda de braço

Lutei duelos terríveis.
Contra inimigos terríveis que vão desde monstros no meu armário até ex-amigos.
Lutei contra o mundo.
Contra a maré. Contra a descrença em mim mesma. Contra a preguiça.
Lutei pelo meu direito de sonhar. Sonhar dormindo e acordada.
Lutei pelo direito de falar e mais pelo de ficar calada.
Por espaço, por sossego, por vontades também.
Lutei para acordar, para dormir, para enxergar, para escutar, para fugir, para ficar, para sumir.
Para ser quem eu sou, para abrir mão de quem era para eu ser.
Lutei até para parar de lutar.
E ultimamente nem sei para que ainda insisto em lutar quando meu maior inimigo sou eu mesma.
Meus medos, minhas inseguranças, meus defeitos, minhas limitações, minha complexidade.
Nessa queda de braço, sempre saio perdendo.


PS: Queridonas voltando à ativa!