segunda-feira, 31 de maio de 2010

As good as it gets

Eu devia ter uns 12 anos a primeira vez que eu assisti Melhor É Impossível. Achei o filme um saco. Chato, sem graça, entediante. Detestei. Senti que tinha desperdiçado mais de duas horas da minha vida com uma porcaria. Foi o começo de uma relação turbulenta.

Fiquei com raiva da Helen Hunt ter feito o filme. Como a Jo de Twister, uma mulher tão interessante, podia ter aceitado fazer uma garçonete chata naquele filme? O mesmo sentimento de raiva se transferiu para Cuba Gooding Jr. Como um elenco tão bom tinha se reunido para fazer aquilo? A única coisa que salvava era mesmo o cachorrinho. Verdell seria charmoso em qualquer circunstância, não é mesmo?

Eu tentei ver o filme mais de uma vez, mas simplesmente não consegui gostar dele. Sempre acabava mudando de canal e achando alguma coisa melhor para assistir. Até Polishop ficava mais interessante perto de Melhor É Impossível, que era um título ironicamente bem nada a ver com a minha opinião sobre o filme.

Mas o tempo passou, eu cresci, eu mudei, eu vivi. E se tem uma coisa que eu aprendi é que o tempo faz a gente ver as coisas de maneira diferente. Não é que as coisas mudam. A gente muda. Eu não sou mais a mesma pessoa que assistiu esse filme em 97. Sou outra completamente diferente.

Aí, ontem resolvi dar uma última chance ao filme. Resultado: amei! E como não amar? Como não gostar de Jack Nicholson no papel de Melvin? Como não gostar de Helen Hunt e sua garçonete? Como não se apaixonar pelo cachorro que passa a pular a divisória da calçada? A história do filme é linda e é contada de uma maneira bem real, quase poética. E o título, então? Te dá a ideia de que o filme falará de algo muito bom, melhor impossível. Mas isso é um problema da lacuna da tradução. As Good as it Gets não é sobre coisas que não podem melhorar; é sobre coisas que atingiram o máximo de sua potencialidade. O título original não carrega em si o otimismo que o traduzido carrega porque o filme não é otimista, não é clichê. Conseguem ver a diferença? É sutil, mas está aí...

Então, percebo que o problema todo é que há 12 anos, eu não estava preparada pra absorver a beleza toda da coisa. Eu ainda achava que Twister era o melhor filme da história e que literatura de boa qualidade era revistinha. Eu ainda entendia pouco da vida. Conhecia pouco do mundo. Conhecia pouco de mim mesma.

E quantas vezes isso já me aconteceu? Quantas vezes me foi dada a oportunidade de mudar de opinião assim? Adoro isso! Gosto de lembrar da ansiedade que sentia quando minhas revistinhas da Turma da Mônica chegavam e dos minutos (porque não dava nem uma hora, ?) que eu passava me divertindo lendo aquilo. Sinto saudade da minha infância. É o mesmo sentimento que sinto ao assistir filmes da Disney. Também adoro reler o Pequeno Príncipe e ver o que vou sentir de diferente. Porque esse livro nunca foi para criança, ? Ele foi escrito para você ler de vez em quando e ver a vida de maneira diferente, enxergar o que mudou desde a última vez que você o leu. Olho para trás e sinto raiva dos professores que me obrigaram a ler clássicos  quando eu ainda não estava preparada para apreciá-los e acabaram me fazendo detestar muitos deles. Mas ao mesmo tempo agradeço a eles por terem me mandado ler clássicos. Melhor do que ler porcaria!

A verdade é que é uma delícia ver que o tempo, que as coisas que vivi, que as cicatrizes que ganhei me fazem mudar. Mudam minha maneira de ver as coisas, de pensar. E isso acontece diariamente. Por mais que às vezes eu sinta que vivo o mesmo dia várias vezes, isso não é verdade. Todo dia acordo uma pessoa diferente porque vivi o dia anterior. E me pego imaginando como será que vou ver o meu hoje daqui muitos e muitos anos. Não posso ter certeza de nada, mas sei que vou olhar para esse tempo e sentir saudade. Vou relembrar o que estou vivendo e vou ficar feliz por ter passado por tudo que estou passando, por estar vivendo. Bom ou ruim, tudo faz a diferença. Tudo me molda. Tudo me faz ser a pessoa que sou e hoje estou construindo quem eu vou ser amanhã, não é mesmo?

Então, proponho que revisitemos nossas antigas opiniões regularmente. Vamos rever os filmes que não gostamos e ver se ainda vamos achá-los ruins ou se vamos gostar deles dessa vez. Vamos reler livros porque cada vez que relemos alguma coisa, lemos algo diferente. Vamos viver o presente tendo em mente que amanhã ele terá outra cara. Vamos aproveitar as chances que a vida nos dá de percebermos o quando andamos, o quando mudamos, o quanto crescemos. Que tal? Porque this is as good as it gets.


Lara - brincando de máquina do tempo


PS: para quem ficou curioso ou quer matar a saudade...

1 comentários:

Éverton Gio disse...

Muito bacana seu post, amor!
É a mais pura verdade.
Um bom exemplo disso são OS SIMPSONS. Toda vez eu acho uma crítica social diferente, coisa difícil de se fazer quando se é criança.
hehehehehehehehe

Bjinhos