sexta-feira, 28 de maio de 2010

O Silêncio dos não tão inocentes


Eu sempre falei mais que a boca, mais que o homem das cobras, pelos cotovelos. Escolha a expressão que quiser. O fato é que eu sempre falei muito. Tipo o burrinho do Shrek, sabe? A pressa de me comunicar foi tanta que só aguentei esperar 8 meses depois de nascida para falar as primeiras palavras. Não lembro como foi, mas pelo o que conheço de mim, posso garantir que foram 8 meses de muita angústia.

Depois que eu dominei a língua, não parei mais. Sempre gostei de falar em público, de me voluntariar para dar minha opinião na aula, de me manifestar, de dizer para todo mundo o que eu penso sobre as coisas.  Acho que foi por isso que virei professora. Porque aí tudo que eu falo passou a importar, né? Não tem jeito. Os alunos têm que me ouvir.

Mas de um tempo para cá, percebi que isso mudou. Já não sinto tanta vontade de falar, muito menos necessidade. Fui aprendendo que às vezes ganho mais ouvindo e fui vendo que consigo ser mais produtiva pensando, sem balbuciar uma palavra sequer. Aos poucos fui conseguindo me calar.

Sim, ainda falo bastante, mas agora sou mais cuidadosa, sou mais seleta. Escolho o que vou falar e para quem. Penso muito antes. Gente que antes escutava tudo que eu tinha para falar hoje só recebe de mim o estritamente necessário. Nada além disso.

O que aconteceu no meio do caminho? Percebi o valor do silêncio. Percebi que as palavras são muito pequenas às vezes. Que elas não são suficientes para explicar  que se passa na minha cabeça. Que quem me conhece não precisa delas para saber o que está acontecendo comigo. Aprendi que meu olhar, meu rosto, meu corpo todo fala. E que esse tipo de comunicação é muito mais eficiente, muito mais profundo.

Aprendi também que às vezes falar cansa. Por vários motivos. Porque quem deveria me ouvir parece ser surdo, porque os outros não me entendem, porque me desgasta ter que explicar o que para mim é óbvio, porque não leva a lugar algum, porque tem quem não mereça esse esforço.

No Ensino Médio, eu tive um professor que sempre falava que nunca deveríamos discutir com ignorantes. Ná época eu achava engraçada essa fala. Ria dela e adora usá-la como desculpa para evitar alguém. Mas hoje, mais de 6 anos depois, entendo o que ele queria que aprendessemos. Sua lição era muito grande para mim antes, mas hoje faz total sentido. Não vejo mais propósito em disperdiçar meu tempo, minhas palavras, minhas ideias com aqueles que não são dignos disso. Pode parecer pretensão minha, mas não é. Pra que ficar convencendo uma pessoa que acredita em A que B é a melhor opção? Cada cabeça uma sentença. Cada um sabe o que pensa e não cabe a mim mudar isso. Cada um precisa aprender suas lições e pretensão seria se eu tentasse acelerar esse processo.

Moral da história: descobri que gosto do silêncio, gosto de ficar reclusa no meu próprio mundo onde falar é subestimado. E gostaria incluse que pudessem ler meus pensamentos de vez enquando. Com certeza me pouparia muito trabalho! Com o passar dos anos fui enxergando as coisas de maneira diferente e fui me calando. É o meu curso natural e não há nada de errado com isso. Meu silêncio é uma opção da qual me orgulho muito. Se não falo é porque não quero, porque não preciso, porque não sinto vontade. Se precisar, na hora certa vou falar. Ou muito provavelmente vou escrever. Porque a escrita é mais eficaz. Ela vai mais longe. Ela dura mais. Sua beleza, sua sinceridade e sua simplicidade me encantam muito muito muito mais. E é justamente por isso que ela me serve bem mais que a fala.

Lara - de boca e cotovelos fechados.

5 comentários:

Unknown disse...

Lara, sempre dramática!
que foto é essa! haha! Verdade tudo que você disse! Pra que falar se o povo não escuta, mas dai eu te pergunto: pra que escrever também se o povo sofre de um problema seríssimo de interpretação de textos, hein? eu queria mesmo é que o povo lesse meus pensamentos e ainda mais entre as tão famosas fucking lines! é pedir demais?
steph - com a mente aberta pra ser lida!

Lara disse...

Esse problema de interpretação realmente é palha. QUe q adianta a gente escrever se quem lê nao entende, né?
Mas aí já tá fora da nossa alçada.
Se o outro tem problemas com entrelinhas, não podemos fazer nada. Sónos cabe torcer pra q ele volte para a alfabetizaçao (a da vida) e aprenda a ler de verdade.

Lara - adramática, pq assim é mais gostoso

Mariana disse...

Eu ando nessa também de não ficar por aí falando tudo e mais um pouco! às vezes é estranho... eu penso em tudo que gostaria de falar para alguém e até me imagino falando e aí a vontade passa... é como se eu já tivesse falado!
Tem algumas pessoas que me dão preguiça e eu simplesmente prefiro não desperdiçar meu tempo, minha garganta e minha boa-vontade com elas... e aí, seguindo o conselho do Mindu, aperto o botão Smile and Wave e finjo que tá tudo de boa.. deixo pra lá!

Éverton Gio disse...

OUTCH! Isso foi uma indireta direta.
=)
=*
;)
Uma coisa eu tenho que admitir: você é muito boa com as palavras.
Ah, gostei do "botão SMILE and WAVE".
hehehehe

Rosana Araújo disse...

Adorei!!! E é a mais pura verdade mesmo... eu não sou tanto de falar como a Lara, mas numa discussão (que por mais que eu soubesse que não fosse levar a lugar nenhum) eu tinha mania de ficar retrucando e retrucando... as vezes guardava isso muuito tempo e ficava remoendo depois. Mas tb aprendi a ficar mais quieta agora, a calar e a deixar certas coisas pra lá...

É claro que ia ser melhor que pudessem ler logo a minha mente, né?! Mas.... as vezes é bom deixar certas coisas no campo das ideias...