Enquanto eu olhava pela última vez as ruas de Brasília e me despedia silenciosamente das minhas memórias você olhou pra mim - talvez pela primeira vez.
"Por que você está tão triste? Não era isso que você queria?"
"Continua sendo o que eu quero."
"Então por que essa cara?"
"Acho que a pergunta certa seria, o que você está fazendo aqui?"
"Como assim?"
"Faz mais de um ano que não nos vemos ou nos falamos direito e por alguma razão, de todas as pessoas que eu conheço e realmente se importam comigo, você é quem está me levando para o aeroporto."
"Não faz tanto tempo assim, faz?"
Ainda com a cabeça encostada no vidro e olhando para a paisagem respondi que de fato fazia um ano que não nos víamos.
Foi você quem finalmente quebrou aquele silêncio esmagador: "Acho que nunca te agradeci pelo chaveiro que me deu hoje."
Ainda sem olhar para ele, ri. "De nada. Você também nunca agradeceu o outro chaveiro que te dei de aniversário uns anos atrás."
"Agradeci sim!"
Ignorei o comentário. "Aliás, por que ele não está aqui com suas chaves?" Tirei o meu rosto do vidro, sentei direito e o encarei.
"Ele está guardado em uma caixinha no meu guarda-roupa."
Sem pensar, respondi: "Ah, assim como a nossa amizade."
Você quase ultrapassou o sinal vermelho. "Como assim como a nossa amizade?"
"Assim como você guardou o chaveiro em uma caixinha, você decidiu guardar a nossa amizade lá também. Faz mais de um ano que temos uma conversa decente e você entra e sai da minha vida a sua conveniência. Fico chateada que nossa amizade, melhor, que eu sou do tamanho de uma caixinha e que fico acumulando poeira em cima de várias outras coisas que cabem dentro de um armário."
Você nunca teve coragem de responder e o resto da ida até o aeroporto foi gritantemente silenciosa.
Quando eu finalmente embarquei recebi uma mensagem sua, mas não tive coragem de ler e deletei na hora.
Alguns anos depois, nos encontramos em um supermercado e você perguntou por que eu nunca respondi aquela mensagem. Fui honesta e disse que nunca cheguei a ler. Você me contou o que tinha escrito.
E daí eu olhei para você e percebi como você era de verdade - talvez pela primeira vez.
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
a crônica da caixinha
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2 comentários:
Porra!
O que tava escrito na mensagem?
Ah, já sei!
tava escrito assim:
"se vc tem várias roupas, como é meu caso, vc tem um guarda-roupas; mas se vc só tem uma, aí vc tem um guarda-roupa. É lá q sua caixinha está. No meu guarda-roupas."
Hahahahahaha
Adoror piada interna!
AAAAAAHHHHHH Que que tava escrito? Que agonia! haahaha
Shimabuko
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