quarta-feira, 1 de setembro de 2010

recortes pt. 1

Era sábado à noite e eu não estava nem um pouco a fim de sair, muito menos com pique de ir para uma festa e voltar para casa no dia seguinte com cheiro de cigarro e maconha impregnados no meu cabelo e minha roupa. Estava a fim de ficar em casa e ver um filme qualquer na HBO e dormir cedo. Obviamente o destino tinha outros planos em mente.


Havia uma festa na universidade em que estudava na qual um dos meus melhores amigos iria ter sua estréia como DJ nela. Não tive como fugir e à uma hora da manhâ me vi saindo de casa com uma energia que animaria qualquer festa. (Sim, leia-se essa frase com um tom carregado de sarcasmo).

Cheguei na festa e a música estava ridiculamente boa – fiz uma nota mental de agradecer e parabenizar meu amigo pela excelente seleção de músicas mais tarde. Encontrei vários amigos do meu curso lá e isso me animou, era raro encontrar com eles fora de um ambiente acadêmico. Aos poucos fui me empolgando mais com a festa e ao ver todo mundo se divertindo, acabei entrando no clima e esquecendo daquela minha preguiça negativa que me impedia de sair de casa.

Estava morrendo de sede, um fato raro, pois nunca sentia sede, muito menos a noite e em festas, e decidi ir ao bar para comprar um refrigerante e aproveitar para ver se tinha algum conhecido meu trabalhando lá. Assim que me aproximei do bar vi um grande amigo meu da biologia no bar e ele chamou meu nome. Fui o cumprimentar e ele me perguntou qual seria o meu refrigerante de escolha para a noite. Ri porque todos que me conheciam sabiam que eu não gostava muito de bebias alcoólicas e ele nem fez questão de fingir que não sabia disso.

No instante que eu falei que queria um Guaraná, veio um rapaz com todo ar de quem faz o curso de engenharia e veio pedir um Guaraná também. Virei para olhar para ele e não acreditei que ele tinha pedido um refrigerante no meio de uma festa open-bar! Meu amigo foi pegar nossas bebidas e voltou com só um Guaraná. “Não vai me dizer que esse é o último Guaraná da festa!” falei com um tom incrédulo.

“Antes fosse esse o problema, essa latinha aqui é o último refrigerante da noite. E aí, quem de vocês vai levar?” Meu amigo nos perguntou. Fiquei realmente surpresa com a pergunta, estava esperando que ele me desse sem nenhuma cerimônia, afinal de contas era meu amigo e sabia que não gostava de bebidas com álcool.

“Ah, eu não posso tomar bebidas alcoólicas e a água já acabou e eu estou morrendo de sede, e eu estava aqui antes dela.” Foram os argumentos usados pelo estranho da engenharia.

“Nada a ver! Eu estava aqui bem antes de você! E eu duvido que você não beba bebidas alcoólicas!” Respondi numa voz de menina que não conseguiu o que queria.

“Mas é sério, eu não posso beber, além de ter um problema no fígado, meu pai era alcoólatra e desde que ele se recuperou eu fiz uma promessa em nunca mais beber.” O estranho rapaz falou tudo isso com um tom de voz muito sério que me fez acreditar naquela história.

Antes que eu pudesse responder, o barman que se dizia ser meu amigo respondeu: “A bebida é sua, minha amiga aqui não é tão egoísta ao ponto de não dar um refrigerante a alguém que realmente não tem nenhuma opção de bebidas a não ser essa aqui.”

Eu ia começar a falar alguma coisa quando de novo, meu amigo me interrompeu com suas palavras: “Mas isso não quer dizer que você também não possa retribuir o favor, pega o celular dela e quem sabe um dia você não paga para ela um refrigerante?” Ele falou tudo isso sorrindo e me olhou como quem tivesse feito um grande favor para mim.

“Nada, não é preciso me pagar um refrigerante hoje nem algum outro dia. É sério, refrigerante engorda.” Essa foi a desculpa que dei para tentar diminuir o estrago que meu amigo tinha feito. “Te pago um suco então, e já que você não confia em mim, te dou meu número em vez de você me dar o seu, e daí você me liga quando tiver afim de me fazer retribuir esse favor, o que você acha?” Realmente me impressionava como esse rapaz conseguia ficar tão serio diante de uma situação tão inusitada como aquela. Por que ele insistia em manter contato depois dessa festa, afinal de contas era só um Guaraná!

Meu amigo, claramente se divertindo com aquela conversa não hesitou em falar que achava aquilo uma ótima idéia e me fez tirar o celular do bolso e anotar direitinho o número do celular do estranho. Assim que o fiz ele se despediu e falou: “É para ligar mesmo, hein! Vou esperar sua ligação, por favor, não quebre meu coração!”. Meu amigo riu bem alto e gritou: “Pode deixar, ela vai ligar sim!”, mas nem sei se o engenheiro tinha escutado aquilo. Fiquei fazendo companhia para meu amigo por mais um bom tempo, bebendo aos poucos uma cerveja que já estava quente. Realmente eu não conseguia ver a graça daquela bebida.

Depois que saí do bar, fui dançar com umas amigas que tinha encontrado no caminho para o banheiro e ficamos lá até quase terminar a festa. Voltei para casa já quase com o sol saindo para inaugurar mais um dia quente e seco em Brasília.

1 comentários:

Lara disse...

Porra!
A história termina assim?
Quero a parte 2 já!
Bjo