segunda-feira, 7 de junho de 2010

A sutileza da despedida

Sexta-feira acordei com a mente ocupada. Eu tinha uma grande tarefa para fazer e queria mergulhar nela de cabeça. Levantei da cama cedo, desci correndo para tomar café e me perdi no papo matinal com o meu pai. Vi que estava meio atrasada e resolvi encarar meu computador, mas não sem antes ligar para o Everton (como faço todo dia) e vi que ele havia me ligado duas vezes. Estranhei um pouco a urgência dele de falar comigo e me aprecei a retornar as ligações.

Uma conversa curta. Não mais que um minuto. Foi o suficiente para mudar meu dia. Dali para frente tudo seria diferente... porque ele tinha ligado para me avisar que o pai de uma pessoa muito querida havia falecido. Fiquei transtornada na hora. Sem chão. Ele era um cara muito novo e realmente a morte dele foi uma surpresa enorme. Ele sofreu um infarto e não resistiu. Nem mesmo os incansáveis esforços do genro dele, primo do Éverton e grande médico, foram suficientes. Era hora dele ir e ele foi.

Quando recebi a notícia senti meu coração encolher do mesmo jeito que ele encolheu mais de 6 anos atrás quando o hospital ligou para avisar da morte do meu avô. Senti uma coisa muito forte que na hora me pareceu dó, mas agora acho que era mesmo compaixão. Pensei nos filhos e na mulher dele e na dor que estavam sentindo. E o fato de que não poderia fazer nada para amenizar isso me fez me sentir pequena. Minúscula.

O mínimo que eu podia fazer, eu fiz. Fui ao velório, vi sua família lhe dizer adeus e chorei muito com eles. Me emocionei profundamente e me compadeci. Andei silenciosamente até a cova e bem na hora dele ser sepultado, entreguei um punhado de rosas brancas para filha dele e falei para ela jogá-las para ele. Eu a assisti beijar uma a uma cada uma das flores e jogá-las para o pai, sussurrando para ele suas palavras de adeus. Depois disso, acabou. Fomos todos para suas casas. Todas aquelas pessoas que choraram juntas seguiram seus caminhos. Em comum só tinham mesmo o sentimento de vazio.

Eu me lembro perfeitamente do dia em que meu avô morreu. A história é longa e não vale a pena contar agora. O que importa é que o que mais me marcou naquele dia foi a hora do sepultamento. O velório foi um horror e a ida até o tumúlo foi longuíssima, mas o pior mesmo foi ver o caixão descer. Porque ali era mesmo o fim. A gente ia para casa e meu avô ia ficar ali para sempre. Não ia mais existir onde ele sempre existiu.

Na sexta-feira, saber que minha amiga tão querida iria sentir exatamente isso me partiu o coração. Era isso que me fazia chorar: ver pessoas que gosto tanto se despedindo tão dolorosamente de alguém que eles tantam amam, que significa tanto para eles.

Acho que nunca comentei aqui que sou espírita, né? Mas isso é importante, porque vejo a morte de uma meneira diferente. Para mim, é apenas uma despedida, um até logo. É dolorida, sim, e causa sofrimento. Pra quem fica. Para quem vai, não. Para quem vai é o fim de uma jornada e o começo de outra. E o que me alivia é que minha crença me permite pensar que posso ter a chance de talvez me comunicar com quem se vai e que um dia nos reencontraremos. Ninguém que está lendo esse post precisa ver a morte assim também ou concordar com o espiritismo porque o que eu estou tentando dizer é que quando eu chorei no enterro não foi por ele, pelo morto. Ele não estava mais naquele corpo. Era só matéria mesmo. Matéria muito amada, obviamente, mas já sem alma. Chorei com a família e os amigos. Chorei a dor deles. Imaginei a saudade que sentirão, a falta que ele vai fazer. E aí chorei.
 
A morte é assim mesmo. A gente chora porque é ruim dizer adeus e porque ela sempre nos mostra a fragilidade e a beleza da vida. Nos lembra todos os dias que somos impotentes diante da vontade de Deus (de novo, não acreditem se não quiserem, mas que somos impotentes diantes da morte é indiscutível) e que, quando temos que partir dessa vida, simplesmente nos vamos. Simplesmente seguimos nossos novos caminhos. E quem fica também. Quem fica arruma um jeito de tocar a vida e de viver com a saudade. E de vez em quando pensam em quem se foi com carinho, pensam nas memórias, nas lembranças, nos ensinamentos que ficaram e sentem saudade. É normal isso, né?

Às vezes, penso no meu avô. Imagino o que ele me falaria se estivesse vivo hoje. Lembro de como ele era e tento imaginar como estaria hoje se a doença e a idade não tivessem castigado tanto sua aparência. Rio de mim mesma por me ocupar de pensar nisso e sei que tudo isso é saudade. Sinto muita saudade dele. Principalmente quando escuto minha mãe contar histórias antigas sobre eles. E sei que onde quer que ele esteja, ele se sente feliz por estar sendo lembrado, por ver que foi tão amado. E ele não se foi para sempre. Ele seguiu o caminho dele e um dia (que eu espero que esteja beeeeeeem longe) vou encontrá-lo.

Daqui para frente, esse exercício de memória, de imaginação, será uma constante na vida da minha amiga. Ela pensará no pai dela várias vezes, se lembrará de coisas que fizeram juntos e imaginará muitas coisas. Imaginará como o pai reagiria ao vê-la grávida, ao ver o irmão dela se casando, ao ver o nascimento do primeiro neto, ao ver o neto formando. E se sentirá triste por saber que o pai não verá nada disso. A ela eu digo: calma! Não fica triste porque ele vai ver tudo isso. Lá de onde ele está, ele vai ver essas coisas e vai ficar incrivelmente feliz por vocês, pela família dele. E se sentirá eternamente orgulhoso do bom trabalho que ele fez ao criar você e seu irmão. Porque a morte não é o fim. É só uma despedida.

Lara -  tocando a vida sempre

4 comentários:

Unknown disse...

Lari!
First of all, my deepest condolences for your friends =( Eu nunca tive uma morte em família que me afetou tanto. Quando meus avós paternos morreram eu não fiquei tão triste pq nem tinha muito contato com eles (devido as minhas mil mudanças de países) mas a saudade bate sempre e é sempre bem forte, né?
Mas é que nem você fala (e todo mundo também) - bola pra frente!
(easier said than done, mas c'est la vie!)
beijo grande, partner!

Éverton Gio disse...

Não sei o que dizer. Depois de ler seu post eu simplesmente fiquei sem palavras.
Palavras muito lindas, vindas do coração.
Parabéns pelo post, amor.

Beijinhos

Lara disse...

Ai, adoro meus incentivadores!
Vcs sao demais!
Bjoooo

Unknown disse...

só pra fazer AQUELE volume!
muahaha!