segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Sobre casquinhas de machucado

Para tudo na vida tem solução. Se eu tivesse ganhado um real para cada vez que ouvi alguém usar esse clichê barato como consolo, Eike Batista estaria enfrentando uma competidora à altura nesse momento. Infelizmente, conselho ruim não vem acompanhado de bufunfa, Eike continua ganhando de mim feiamente e eu continuo rindo da falta de criatividade da ilustre frase que abre o texto.

Para algumas coisas na vida não tem solução. Remendo pode até ter, mas solução, ah, isso às vezes não tem. Liquid paper só camufla o erro, não apaga e nem desfaz. A rasura faz o mesmo trabalho, mas com menos capricho. Linha e agulha remendam o buraco, mas o tecido nunca mais será o mesmo. Super bonder faz milagres, mas não cola os cacos com perfeição. Sempre dá para saber que por ali passaram dedos colados...

O mesmo acontece com a gente. A palavra dita não volta, a mágoa que machuca não vai embora pra sempre. Por mais que peçam desculpa, que admitam o erro, que sintam muito, a marca fica. É quem nem quando a gente era criança. Machucava o joelho, sentia uma dor horrorosa, enfrentava o merthiolate bravamente, deixava a ferida criar casquinha (de preferência uma bem feia para impressionar os colegas), não aguentava a ansiedade e arrancava a casquinha para se dar conta que ali de baixo já tinha uma pele nova, mas que carregaria para sempre a cicatriz daquela aventura. Era ou não era assim?

A gente cresce, as aventuras mudam, as quedas não são mais literais, mas isso não quer dizer que nos machuquemos menos. Aliás, muito pelo contrário! As feridas não literais são da pior espécie! Doem muito mais, demoram muito mais para sarar e deixam as cicatrizes mais feias, daquelas de deixar qualquer menino do parquinho de queixo no chão. E aí te pergunto, tem solução pra isso?

Se você é desses seres humanos superiores, incríveis e invejáveis capazes de perdoar e esquecer, aí pode até ser que as soluções existam. Porém, se você faz parte da maioria da espécie que precisa se esforçar muito para esquecer (e que na maioria das vezes não consegue fazer isso), então você sabe que para algumas coisas não há silver tape que dê conta do recado, né não?

Até aí tudo bem. Não tem como evitar que esses tombos aconteçam. Às vezes a gente gosta da pessoa errada, confia na mais cretina, escuta a mais inadequada, às vezes repetimos erros, ignoramos os melhores conselhos, enfiamos o pé na jaca com vontade de afundar. Às vezes a culpa é nossa, outras vezes não. Mas e aí? Como que a gente faz?

Meu conselho: cultive a casquinha do seu machucado. Deixe que engrosse e quando ela começar a se soltar, tome coragem e arranque-a (até porque não tem quem aguente esperar cair sozinha, né?), Por mais doloroso que isso seja, ninguém merece ficar andando com uma casca horrorosa presa a si. Mas lembre-se: tome cuidado com a pele recém-nascida. Ela é frágil e nasce com memória. Por mais que você se engane, ela sabe como veio parar ali.

No começo você vai achar sua nova cicatriz feia (Encaremos a realidade e fora do parquinho, cicatrizes não são legais.), nunca vai chegar a gostar dela, mas com o tempo você vai conseguir olhar para ela como um lembrete de como você é humano, de como você erra, como se magoa, mas de principalmente como você sobrevive. Gente, pode acreditar no que eu estou falando. Pode parece que não, mas você sobrevive. Por maior que a ferida seja, a casquinha sempre cicatriza e você sobrevive. E o melhor de tudo é que o tempo passa e nós crescemos, mas as cicatrizes não. Lembra quando a gente era criança e machucava o cotovelo e ficava uma cicatriz gigante? Olhe pro seu cotovelo agora e me responda: sua cicatriz continua do mesmo tamanho ou ela é menor agora?

Por isso proponho que abracemos o fato de que feridas são inevitáveis e continuemos a viver. Para a vida, não tem solução. Tem que viver e pronto! Então, agarremo-nos a esperança de que as casquinhas aparecem rápido. Como dizia minha mãe quando eu era criança, "dorme que quando você acordar, já vai estar doendo menos." Aprendamos com as cicatrizes que arrumamos nos percurso e tentemos nos machucar menos daqui para frente porque pro resto a gente arruma solução.

Lara - arrancando a casquinha mais feia dos últimos tempos

3 comentários:

Mariana disse...

Que bom que você voltou com o blog! =D
O que eu tenho a dizer é que a gente arrancava a casquinha, o Everton não! uihaiuahiauhauia

Lara disse...

Hahahahaha

O Everton era a criança nerd que cultivava a casquinha até ela cair.

Reduto Nerd disse...

kkkkkkkkkkkkk. O pior é que é verdade! Eu cultivava a casquinha até cair, mas não adiantava nada porque a droga da cicatriz ficava do mesmo jeito! kkkkkkkkkkkkkkkkk