domingo, 14 de novembro de 2010

filosofia de taxista

Já dizia alguém famoso, não sei bem quem exatamente, que conselho, se fosse bom, não se dava de graça. Sábias palavras, caríssimo autor anônimo, sábias palavras.
Eu não sei bem o que eu quero da minha vida. Talvez seja por isso que eu comprei uma passagem sem volta para o Rio de Janeiro. Estava chovendo quando desembarquei e entrei em um taxi qualquer de aeroporto.

O motorista não perguntou para onde eu ia, simplesmente colocou minha bagagem no porta-malas e dirigiu como se já soubesse tudo da minha vida e não precisasse de maiores instruções sobre meu destino.

Como já éramos amigos íntimos ele começou.

- Sabe, o bom não é o amor. O bom é casar. É tão bom que já me casei 10 vezes.

Não sabia bem o que falar ou como reagir. Minha primeira reação foi rir, mas segurei a vontade. Talvez ele realmente fosse vidente! Um pai de santo, talvez. Por que não? Eu devia falar algo sobre meu destino, mas não me pareceu apropriado no momento. Qual era a pressa, não é mesmo? Não era esse o ponto da minha aparente loucura?

Ele sabia da minha história, certeza. Continuou.

- Esse negócio de amor é coisa de adolescente. Gente velha quer mesmo uma boa companhia e só.

Fazia sentido pensei pra mim mesma. Fiquei dois anos atrás de um suposto grande amor e para quê? Para ser monumentalmente decepcionada no final, respondeu aquela voz amiga do meu subconsciente. Não gostei da resposta, afinal de contas, não foi tão ruim assim. Eu finalmente consegui o que tanto queria, uma pena só a realidade não ter correspondido com minhas expectativas.

O taxista se intrometeu nos meus pensamentos. Não gostou da conversa interna que estava tendo, queria fazer parte do papo.

- Já sofreu por amor minha filha? Mexe com isso não. Quando for namorar, ame só 10% senão você vai sofrer.

Ele claramente sabia do que estava falando. Sabia que tinha feito algo de errado, amei com um zero a mais!

Estávamos em pleno engarrafamento carioca, não tinha para onde fugir. Não precisava dizer para onde eu tinha que ir por enquanto. Continuei calada.

- Sabe, muita mulher desesperada entra no táxi e roda a cidade toda chorando atrás do marido ou namorado. Perda de tempo.

Não me surpreendi, mas achei cliché na hora. Por que rodar a cidade toda, gastar dinheiro se você já sabe que o seu marido ou namorado está te traindo? É a tal da dor, né? Rejeição realmente não é pra qualquer um e se tem algo que a gente não esquece é traição. Por mais que depois ele se arrependa, te escreva uma carta dizendo tudo que você sempre quis ouvir, você sempre vai ter um pé atrás com ele. Nunca vai confiar totalmente nele, especialmente quando ele for sair com aquelas amigas que você sabe que não valem nada.

O meu amigo não se contentou e prosseguiu.

- Se tá bom fica, se não tá, separa. Tem gente demais nesse mundo pra ficar brigando e dizendo 'ah, mas eu amo é você'.

Isso é mesmo. Era exatamente isso que eu precisava ouvir. Uma segurança verbal, mesmo que vindo de um completo estranho, para me assegurar de que o que eu estava fazendo não era errado, não era fuga. Se fosse isso que eu queria eu nunca teria abdicado daquele sofá que eu tanto quis experimentar. Nunca.

O engarrafamento foi lentamente melhorando e começamos a andar. Me deu uma vontade louca de chorar, mas as lágrimas não desceram.

- Vou ficar entre a Figueiredo e a Barata Ribeiro. Rua 567, na esquina do Itaú, eu falei pela primeira vez.

Ele não falou mais nada durante a viagem até chegarmos lá.

- Serão R$35,60 da corrida, os conselhos ficam por minha conta.

Steph - tentando

2 comentários:

Druidan disse...

Stephita é superação e biquininho no Rio!!!

E caralho, teve um parágrafo ai que foi pra mim né?! Eu sei disso!!

Aproveite a superação =***

Lara disse...

Vamos sofrer em Paris que é mais estiloso!
E lá taxista não dá tapa na cara de quem ama 110%. É a cidade do amor, bicho.
É nosso nicho!
Bora?

Lara - sempre arrumando uma desculpa pra fugir